Os jesuítas desembarcam no Brasil em 29 de março de 1549 e foram expulsos em 1759 pelo Marquês de Pombal.
A principal missão da Companhia de Jesus era a catequese, batismo e conversão do povo do novo mundo, ensinando a importância da Santa Igreja Católica Romana.
Os jesuítas encontraram na música a forma inteligente de conquistar os índios e facilitar o trabalho da catequização.Nesta crônica podemos observar as ferramentas utilizadas pelos jesuítas em sua obra de catequese do indígena:“não há dúvida que um dos meios para entretê-los e afeiçoá-los a ficar e estar com os Padres é ensiná-los a tocar algum instrumento para suas folias em dias de suas festas em que fazem suas procissões e danças” Holler ( 2006, p. 153 ).
O fato de utilizar a música como instrumento de catequização não era novidade no Brasil. Nas Índias os jesuítas já utilizavam da mesma inventividade, pois viam em meio às cerimônias dos índios o mesmo apoio por meio da música.
Com apenas doze dias após a chegada na Bahia o Padre Manuel da Nóbrega, que trabalhava para traduzir a sistematização da língua geral, escrevia que o Padre Juan Navarro, já se dedicava à prática de composição e adaptação das melodias européias aos textos religiosos que traduzia na língua indígena:
“faz também aos meninos cantar à noite certas orações que lhes ensinou em sua língua, dando-lhes a melodia, estas em lugar de certas canções lascivas e diabólicas que antes usavam”.Castagna (2003, p. 12).
A partir desta citação podemos analisar que o desígnio estava proposto, bastando apenas direcionar as idéias e concluir a ordem de catequização.
Mas na importância em compreender a língua brasílica vê-se a respaldo que os jesuítas sedem aos índios:
Em uma carta de abril de 1549 ao Padre Simão Rodrigues, o Padre Nóbrega expressou a necessidade de os missionários aprenderem a língua dos índios para uma maior proximidade: “temos determinado ir viver nas aldeias quando estivermos mais assentados e seguros, e aprender com eles a língua e i-los doutrinando pouco a pouco. Trabalhei por tirar em sua língua as orações e algumas práticas de N. Senhor.” Holler (2006, pp. 156-157)
Aprendendo a língua Tupi os jesuítas conseguiram aproximar-se mais dos índios e conquistá-los, principalmente os curumins: “pouco tempo depois o Padre Navarro traduziu o Pai Nosso em modo de seus cantares, para que aprendessem e gostassem mais rápido, principalmente os meninos”.Holler (2006, p.157)
Os curumins foram a porta de entrada para a “tentativa” de catequização. Eram curiosos e rápidos no aprendizado e eram ensinados a tocar diversos instrumentos musicais, que vieram com os jesuítas, como: flautas, violas, charamelas, dulcians e órgãos, além do ensino em cantochão (canto gregoriano) e em canto de órgão (polifonia).
Desta forma os jesuítas supriam as cerimônias religiosas:“A festa se fez com várias e bem ensaiadas danças de moços e meninos, com seus ditos em louvor do dia, duas pregações, uma em português, outra na língua brasil, vésperas e missa a dois coros, também cantada, tudo com seu baixão, sacabuxa, flautas e charamelas, que dentro na cidade não sei se se fizera melhor”. Holler ( 2006, p.101).
Assim os curumins começaram a se destacar na nova arte, que para eles era tão atraente.
Muitos estiveram presentes como catecúmenos e os mais dotados aprendiam a cantar e tocar diversos instrumentos musicais, levando música as festas e várias outras cerimônias.
Indios que até então conheciam as suas flautas e o seu canto, desempenhando sua crença nos deuses da natureza que conheciam. De repente se viram tocando instrumentos europeus, cantando no modo europeu e rezando por um Deus trazido pelos jesuítas.
No primeiro momento os jesuítas obtiveram muito sucesso entre os índios, tendo como prática simples, o canto de orações em português e tupi.
Com a chegada de Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo da Província do Brasil, que não aprovara o uso da música tradicional indígena na catequese, Manuel da Nóbrega precisou se explicar .
Escreveu assim o próprio Manuel da Nobrega a P. Simão Rodrigues defendendo-se: "Se nos abraçarmos com alguns costumes deste gentio, os quais não são contra nossa fé católica, nem são ritos dedicados a ídolos, como é cantar cantigas de Nosso Senhor em sua língua e pelo seu tom, e tanger seus instrumentos que eles [usam] em suas festas quando matam contrários e quando andam bêbados e isto para os atrair a deixarem os outros costumes essenciais e, permitindo-lhes estes, trabalhar por lhe tirar os outros." Holler (2006, p.154).
Ponderando na forma em que os jesuítas utilizaram a música no início de 1549 e considerando a grande desenvoltura musical posterior causada pelos meios europeus na colonização, podemos dispor em uma balança todos os benefícios que os mesmos disponibilizaram.
Que cada um encontre uma conclusão, pois como qualquer país colonizado por outro povo, nascemos da sombra de outra cultura.
REFERÊNCIAS
CASTAGNA, Paulo, Música missionária na América Portuguesa. Apostila do curso de história da música brasileira, Instituto de Artes da UNESP, 2003.
HOLLER, Marcos Tadeu. Uma história de cantares de Sion na terra dos brasis: a música na atuação dos jesuítas na América Portuguesa (1549-1759) – Campinas, SP, 2006.
Parabéns para a equipe do Museu da Música pela exposição, estava maravilhosa!!! Irei na próxima exposição, valeu a pena.
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